A diferença nas taxas de juros em relação ao financiamento é expressiva, de fato, mas não é o único fator que deve ser considerado na hora de decidir pelo investimento em um consórcio de imóveis.
Enquanto muito setores andaram de lado neste ano até agora, o mercado de consórcio de imóveis tem bom motivos para comemorar. De janeiro a setembro houve um crescimento de 27,3% nas vendas de novas cotas em relação ao mesmo período do ano anterior – só em setembro, foram 31,5 mil novos consorciados no setor de imóveis. Mas quando o consórcio é realmente uma boa opção para comprar imóveis?
A diferença nas taxas de juros em relação ao financiamento é expressiva, de fato. Se no financiamento há uma taxa anual de 11% ao ano, os consórcios trabalham com taxas de 20% no plano total, o que significa, por exemplo, que em um plano de 15 anos, a taxa é de 1,3% ao ano. “Além disso, os bancos também têm cortado os financiamentos, o que favorece a busca por consórcios”, aponta Jorge Prado, consultor de investimentos e professor de mercado financeiro.
Mas não é só a vantagem financeira que deve ser considerada. Parece clichê, mas primeira regra básica para quem decide fazer um consórcio de imóvel é não ter pressa, especialmente se a intenção de investimento é comprar o bem é para morar, e não apenas para investir.
Mesmo que você não tenha pressa no momento da contratação, o passar do tempo sem a contemplação da carta pode ser frustrante para quem sonha com um residência própria. Além disso, se o consorciado não tem dinheiro para dar o lance fica difícil partir para um financiamento no meio do caminho. O único jeito, neste caso, é esperar e contar com a sorte.
Para quem não tem pressa …
Para José Roberto Luppi, presidente da regional Sul da Abac, os consórcios suprem uma limitação social, que é a capacidade de poupar alinhada à necessidade de construir um futuro financeiro mais estável. No consórcio, a contemplação e aquisição da casa própria é feita no decorrer do prazo do grupo, ou seja, o consorciado se “autofinancia”, o que permite custos mais baixos e leva, naturalmente, o consumidor a planejar melhor a construção de seu patrimônio.
“É a alternativa mais barata e também uma forma efetiva de poupar. Por exemplo, o consumidor que busca o primeiro imóvel, escolhe, de acordo com seu orçamento pessoal, o valor da parcela, o crédito, o prazo do grupo a que vai aderir. É ele mesmo quem constrói este caminho, que pode ser antecipado por lance ou sorteio”, explica.
Consciência para planejar
Segundo Prado, o consórcio imobiliário também tem sido uma forma de planejamento financeiro em muitas famílias brasileiras. Ele acredita que, como culturalmente o brasileiro tem o sonho da casa própria, muitas vezes não pensa nos custos a longo prazo, na emergência de ter o imóvel em mãos. “Muitos fizeram financiamento no passado, não conseguiram honrar com os compromissos e tiveram os bens retomados. O sonho da casa própria vira um pesadelo”, afirma.
Imóvel como investimento
De acordo com Tatiana Reichmann, diretora-superintendente da Ademilar Consórcio de Investimento Imobiliário, a procura por consórcios como investimento no futuro tem crescido, concorrendo, inclusive, com a previdência privada. Não à toa, o setor de consórcios como um todo também registrou crescimento de 29,3% no acumulado do ano até setembro, e o tíquete-médio registrou alta de 24%, passando de R$ 35,4 mil, em setembro de 2016, para R$ 43,9 em setembro deste ano, o que, segundo a Abac, significa que houve mais contratos com créditos de valores maiores.
“Muitos têm nos procurado preocupados com a aposentadoria. Famílias com mais recursos financeiros sempre investiram em imóvel pensando no futuro, e este tipo de negócio tem crescido. Busca-se um novo imóvel que gerará renda com aluguel e pode, muitas vezes, substituir a aposentadoria via previdência privada. É um planejamento de vida, isso é importante as pessoas terem em mente, porque pode ser que leve um tempo até serem contempladas. Mas se podem esperar, é o melhor negócio”, aponta.
Como relembra Jorge Prado, o mercado de consórcios já sofreu algumas baixas ao longo do tempo, com empresas menores que deixaram seus consorciados na mão e fecharam as portas, inclusive no Paraná. Por isso, é preciso estar atento. “É imprescindível buscar referências sobre as administradoras, ler bem os contratos e saber de seus direitos”, orienta o consultor.
Para Tatiana Reichmann, a confiança neste tipo de serviço aumentou quando houve regulamentação e aumentou a fiscalização. Em 1991, com a edição da Lei 8.177, a fiscalização e a regulamentação das operações de consórcios passaram para o Banco Central do Brasil, e, em 2008, aconteceu a edição da Lei 11.795, conhecida como Lei dos Consórcios, com oito capítulos constando as principais regras desta modalidade de crédito. A lei entrou em vigor em 2009. “Isso traz muito mais segurança ao consumidor. Pelo site do Banco Central ele consegue ter acesso a informações importantes sobre as administradoras, podendo assim tomar uma decisão mais consciente”, completa.
Fonte: Gazeta do Povo